segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Petróleo preocupa, mas não ameaça por ora a retomada global

Rodrigo Uchoa | De São Paulo / Valor Econômico

A revolta popular que está abalando o mundo árabe, e que já afeta países produtores de petróleo, por enquanto não ameaça a recuperação da economia mundial. Mas economistas alertam que há riscos, caso o movimento se alastre para a Arábia Saudita ou a alta do petróleo se prolongue demais. Apesar de mostrar confiança cautelosa, economistas, banqueiros e autoridades de instituições internacionais advertem que um temido contágio saudita mudaria a situação radicalmente.

Para Fatih Birol, economista-chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), os preços estão "perigosamente altos". Ele diz não haver um "limite" que, ultrapassado, poria de imediato em risco a retomada da economia mundial. "Não há dúvida de que [a alta do petróleo] reduzirá a quantidade de dinheiro para o consumo e o investimento, mas o ponto de inflexão só se dará mesmo se a confiança na economia entrar em colapso."

Birol diz que o barril de petróleo acima de US$ 100 pode ser um risco para a recuperação mundial no médio prazo. "Por enquanto, a confiança mundial ainda é forte."

Michael Lewis, chefe de pesquisa de commodities do Deutsche Bank, em Londres, também acha que "as economias são vulneráveis ao preço do petróleo, mas, até agora, parece que a confiança do consumidor e dos empresários está relativamente forte", afirmou em relatório do banco.
Essa visão é compartilhada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). "É improvável que [a crise no Oriente Médio e no norte da África] gere uma mudança substancial no panorama econômico mundial", disse ontem o vice-diretor-geral do Fundo, John Lipsky.

O FMI prevê uma expansão da economia mundial da ordem de 4,4% neste ano - previsão que leva em conta o barril a US$ 95.

Julian Jessop, economista da Capital Economics, de Londres, diz que, "a cada US$ 10 de aumento nos preços do barril de petróleo, o crescimento da economia mundial perde mais ou menos meio ponto percentual".

Isso é particularmente preocupante para a China, maior consumidor mundial de energia. A inflação no país já está acima das metas do governo, e poderia piorar bastante com uma grande elevação dos preços do petróleo.

Por enquanto, as grandes economias vêm mostrando dados seguros de confiança, o que ajuda a sustentar as previsões econômicas.

O índice de confiança do consumidor dos EUA, elaborado pelo Conference Board, saltou para 70,4 em fevereiro, ante o dado revisado de janeiro de 64,8. O resultado alcançou o nível mais alto em três anos e superou as estimativas dos economistas, que previam 66.

Na Alemanha, maior economia da Europa, os empresários também continuam confiantes. O indicador que mede a percepção sobre as condições dos negócios no país, elaborado pelo Ifo, registrou nova elevação, passando de 110,3 pontos na leitura de janeiro para os atuais 111,2 pontos. Foi o nono avanço mensal consecutivo. A indústria alemã planeja ampliar o quadro de funcionários.

Mesmo com esse otimismo, a possibilidade de que a onda de levantes chegue à Arábia Saudita assusta analistas e banqueiros.

Para o Bank of America Merrill Lynch, o barril de Brent deve ser negociado no curto prazo em uma banda de US$ 105 a US$ 110. Segundo o banco americano, apenas um barril a US$ 120, por um período de tempo prolongado, seria capaz de criar danos extensivos à economia mundial.

O Goldman Sachs também acha que o barril pode atingir níveis recordes se as turbulências chegarem à Arábia Saudita.

Atualmente, os sauditas têm capacidade de aumentar a produção em 4 milhões de barris diários, seguindo a AIE. Isso serviria para compensar com facilidade qualquer tipo de interrupção da produção na Líbia, que produz cerca de 1,8 milhão de barris/dia.

Ali Naimi, ministro do Petróleo saudita, disse que a Opep está pronta para aumentar a produção, se necessário. "Já fizemos isso tantas vezes, quando outras crises apareceram", afirmou. Mas essa capacidade está concentrada na Arábia Saudita. Por isso o mercado teme tanto problemas no país.

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