sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Nafta pode subir a US$ 900 por conflito no Oriente Médio

MAURÍCIO GODOI / DCI

Os conflitos que se estendem por cerca de uma dezena de países do Oriente Médio pelos últimos dois meses fará sua primeira vítima no Brasil: o setor petroquímico. O preço da matéria-prima básica para esse segmento da indústria, a Nafta, deverá ser reajustado para US$ 900 por tonelada na semana que vem. O valor médio praticado no mercado brasileiro está em US$ 815 por tonelada, nível que não se manterá mesmo com a fórmula de estabelecer a média dos últimos três meses no mercado spot (à vista) na Europa.

De acordo com Otávio Carvalho, diretor da consultoria MaxiQuim, o preço histórico do insumo petroquímico é o equivalente a nove vezes a cotação do barril do petróleo e como os conflitos estão elevando o valor do petróleo o aumento é dado como certo devido à alta volatilidade registrada desde dezembro no valor do barril.

Na última semana do ano passado a cotação do barril utilizada pela Petrobras como referência, o Brent, era negociado na casa dos US$ 80. Com o agravamento da crise na Líbia, um dos maiores exportadores do produto para o continente europeu, o preço já marcava US$ 108 por barril, maior nível desde antes da crise mundial de 2008.

A tendência do preço é de seguir em alta. A italiana Eni informou que suspendeu parte de sua produção na Líbia, incluindo as operações no gasoduto Greenstream, que envia para a Itália cerca de 10% das necessidades de gás natural do país. A Eni é a companhia internacional com as maiores operações na Líbia. A petrolífera espanhola Repsol também anunciou que suspendeu totalmente suas operações na Líbia, incluída a exploração em conjunto com a francesa Total e com a austríaca OMV AG. A Líbia fornece cerca de 30 mil barris diários de petróleo à Espanha, o que corresponde a 7% do consumo diário espanhol.


"Os preços nos próximos meses serão influenciados sem dúvida com a alta do preço do petróleo por causa desses confrontos", avaliou Carvalho. "Porém, o meu receio é se esses conflitos chegarem a Arábia Saudita, que é uma ilha de estabilidade naquela região turbulenta, aí sim é que teremos um crise mais séria, cujas proporções podem desencadear uma mudança estrutural para o setor petroquímico", afirmou ele.

A Arábia Saudita possui a maior reserva de petróleo do mundo com cerca de 265 bilhões de barris, é o maior exportador do produto e possui capacidade instalada para produzir cerca de 100 milhões de toneladas de resinas petroquímicas por ano.

Em paralelo à alta de preços que se anuncia no mercado brasileiro, a Braskem negocia com a Petrobras, que além de ser fornecedora da nafta utilizada em suas operações possui 35,8% de participação em seu capital total, a adoção de prazo para o pagamento desse fornecimento. Atualmente, explicou o presidente da empresa, Carlos Fadigas, a Braskem é obrigada a pagar a estatal à vista. Ao mesmo tempo, explicou o executivo, a empresa possui uma carteira de crédito a seus clientes que soma R$ 3,5 bilhões além de fornecer 115 mil toneladas de resinas em condições especiais para a exportação de produtos.

Apesar disso, o setor de transformação de plásticos afirma que a incorporação da Quattor pela Braskem cria um monopólio que fere diretamente a competitividade deste setor da indústria nacional. Conforme o DCI publicou na semana passada, a balança comercial do setor aumentou 47,86% em 2010, esse número deve-se em parte, segundo a Abiplast, ao preço da resina nacional que é a mais cara do mundo, chegando a ter preço 30% mais alto que a chinesa e norte-americana.

Para o vice-presidente de Relações Institucionais e de Desenvolvimento Sustentável da Braskem, Marcelo Lyra, os preços no Brasil seguem o mercado internacional e não dá para falar em monopólio uma vez que as empresas têm acesso aos fornecedores globais. Para ele, o argumento de que os preços no Brasil são mais elevados que os encontrados em outros paises é o fato de que existem as variáveis de preços do mercado interno como os custos com logística, serviços, inovação entre outros aspectos.

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