quinta-feira, 3 de março de 2011

Fiesp mira China antes de visita de Dilma Rousseff ao país

DA REUTERS, EM SÃO PAULO / Folha de S. Paulo

A menos de dois meses da visita da presidente Dilma Rousseff à China, o setor produtivo brasileiro mantém a artilharia contra o país asiático que já é o principal parceiro comercial do Brasil.

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) critica a qualidade do comércio entre os dois países e acusa os exportadores chineses de práticas desleais, incluindo dumping.

Para Paulo Skaf, presidente da entidade, os produtos chineses que entram no mercado brasileiro prejudicam a indústria nacional e desincentivam a criação de empregos.

"Na relação com a China, a gente exporta commodities e matérias-primas e importa manufaturados. Essa não é a relação ideal para o Brasil", disse Skaf à Reuters.

"Não estamos contra a relação com a China, desde que não haja práticas desleais e ilegais e não fique uma troca em que eles levem nossas matérias-primas e nos vendam com valor agregado, gerando emprego lá", resume Skaf.

O dirigente gostaria que a indústria local é que estivesse enviando manufaturados para o poderoso mercado consumidor chinês.

O desequilíbrio nas trocas se traduz em números: enquanto 97,5% das importações brasileiras da China foram de bens manufaturados em 2010, apenas 5% das exportações brasileiras são provenientes deste setor, segundo dados da federação.

Como resultado, segundo a entidade, a indústria brasileira teria deixado de gerar 300 mil empregos em um ano.

Analisando apenas os saldos, as trocas entre os dois países são bastante favoráveis ao Brasil.

No ano passado, as exportações brasileiras para a China atingiram US$ 30,8 bilhões, e as importações, US$ 25,6 bilhões, gerando saldo de 5,2 bilhões de dólares a favor do Brasil, segundo dados do governo brasileiro.

Quanto às práticas desleais de comércio --uma denúncia comum aos exportadores chineses--, o dirigente cobra do governo brasileiro atuação mais efetiva para coibir o dumping, o subfaturamento e a pirataria. Segundo Skaf, o número de funcionários do governo responsável por este tipo de investigação é "mínimo", enquanto o governo chinês teria milhares de servidores para isso.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior confirma, sem informar a totalidade, que o número de agentes da defesa comercial é pequeno e que o novo ministro Fernando Pimentel pretende reforçá-lo. Ainda assim, uma investigação deste tipo é reconhecidamente lenta e leva em consideração as normas da OMC (Organização Mundial do Comércio).

O ministério indica ainda alguns casos de vitória antidumping contra os chineses, como no processo de calçados, em que cada par é taxado com US$ 13,89 para entrar no país. Quanto aos produtos exportados, a pasta diz que o Brasil está apenas aproveitando o movimento de compra de commodities, alimentos e de minério de ferro a bons preços.

Os temores da indústria incluem ainda intenções, como o reconhecimento da China como economia de mercado, que o Brasil já reconheceu em uma declaração política, mas não formalizou.

"Isso é um absurdo porque a China não é uma economia de mercado. É muito difícil distinguir em uma empresa o que é privado e o que público na China. E não há preços definidos pelo mercado", disse Skaf.

Em menos de dois meses do novo governo, Skaf já levou o tema do comércio chinês aos ministros Pimentel e Antonio Patriota (Relações Exteriores), além do vice-presidente Michel Temer.

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