quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Cronologia da impunidade

Segue texto de autoria do comandante do 10º BPM  Blumenau, expressando a revolta quanto à impunidade e a leniência da legislação brasileira. Trata-se de um relato de uma situação ocorrida na última sexta-feira (02.12 ) e que expressa como a impunidade impera e torna os cidadãos de bem reféns.  

CRONOLOGIA DA IMPUNIDADE

Por vezes os órgãos de segurança pública são criticados por não atenderem as expectativas da sociedade. Não raro nestas ocasiões, as críticas mais contundentes são direcionadas a Polícia Militar, por ser ela o elo mais visível da segurança pública. Somos a maior instituição, a mais visível e a mais próxima do cidadão.

Por estarmos mais próximos do cidadão, e por sermos policiais militares em tempo integral, não nos furtamos em agir, mesmo estando de folga, acompanhados por familiares, por vezes.

No entanto, em nosso país, em nosso estado, em nossa cidade, a impunidade no enfretamento ao crime e ao criminoso impõe a nós policiais e a todos os cidadãos de bem, derrotas que só servem para cada vez mais acreditarmos que a justiça está carente de civilidade. Falta-lhe atribuir aos maus os rigores da lei.

Feita esta pequena introdução, o leitor poderá entender nossa indignação e nosso desânimo ante o fato ocorrido em Blumenau, no dia 02/Dez/11, o qual bem demonstra o que é a CRONOLOGIA DA IMPUNIDADE.

02/Dez/11, Blumenau, Rua Curt Hering, centro, próximo a Galeria do Rubens;

1000h - Coronel PM Álvaro, Cmt da 7ª Região Policial Militar, em sua hora de folga, desarmado, estava com sua esposa fazendo compras de natal;

O mesmo avista um agente suspeito tentando, com uma chave micha, furtar uma motocicleta CG 125 estacionada;

Neste mesmo momento, o proprietário da referida moto chega e entra em luta corporal com o criminoso, tentando impedir o furto;

O Cel Álvaro, próximo dos fatos, corre em auxílio, e envolve-se na luta, dominando com ajuda da vítima o ladrão;

1020h – Guarnições PM chegam ao local e efetuam a identificação do criminoso e a condução do mesmo até a Central de Polícia Civil;

1100h – Delegado Fábio inicia pessoalmente os procedimentos da lavratura do Auto de Prisão em Flagrante Delito;

1400h – É encerrada toda a documentação da prisão em flagrante do criminoso;

1500h – O criminoso é encaminhado até o Presídio Regional de Blumenau;

1530h – O criminoso é recebido no Presídio Regional de Blumenau, onde então é feita toda a documentação para sua inclusão na cadeia;

1700h – O criminoso é encaminhado para o Centro de Triagem, para posterior encaminhamento as celas;

1900h – O Diretor do Presídio recebe Alvará de Soltura do criminoso, relaxando a prisão em flagrante;

2000h – O criminoso é solto pela porta da frente do presídio e volta ao crime;

2000h – A guarnição de serviço e o Coronel Álvaro ainda se encontram de serviço no batalhão em Blumenau.

E quem era este criminoso?

Ele é G.A.C. Jr., 20 anos de idade, morador de um condomínio do Projeto Minha Casa Minha Vida, que abrigou os flagelados da enxurrada de 2008. Tem passagem por porte e uso de drogas, quando obteve o benefício da transação penal, não precisando ficar sequer uma hora detido. É autor de lesões corporais contra morador do antigo abrigo da Rua Capitão Santos, início do bairro Garcia e sequer respondeu a inquérito. É autor de roubo contra adolescente em abril deste ano, respondendo por isto a processo penal. É “suspeito” (para nós policiais, temos a certeza) de ser o autor de cinco roubos contra adolescentes e mulheres, no final da Alameda Rio Branco, nos meses de março e abril deste ano.

Juntamente com um menor de apelido “PIU” e outro criminoso conhecido como “GALDÉRIO”, tem praticado furtos de motocicletas, sendo eles os responsáveis pelo tráfico de droga (crack) no antigo abrigo da Rua Capitão Santos e atualmente em um condomínio voltado para pessoas de baixa renda ou que perderam suas casas devido à enxurrada de novembro de 2008. Os três fazem parte de uma facção criminosa que busca dominar o tráfico de drogas em nossa cidade, bem como impor sua força no interior dos presídios catarinenses. Também são responsáveis por ameaçar de morte a vida de militar do exército, o qual havia impedido que agissem no interior de um clube social, durante uma festa pública.

Onde o mesmo se encontra agora?

SOLTO, ROUBANDO,TRAFICANDO E AMEAÇANDO VIDAS!

E nós policiais e pessoas de bem, o que devemos fazer?

Cabe a nós policiais recomeçar tudo novamente. Investigar, dispender tempo e esforços para mais uma vez prender aquele que já deveria estar preso. Estamos “enxugando o chão com a torneira aberta”.

Cabe a nós cidadãos, não mais aceitarmos a falta de civilidade de nossas leis. Cabe a nós exigirmos que sejamos reconhecidos como pessoas de bem e exigirmos ainda que as pessoas que praticam do mal efetivamente recebam os rigores da lei.

Cláudio Roberto Koglin.
Comandante do 10º Batalhão de Polícia Militar e cidadão catarinense.

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