segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sensação de politização

Compartilho com vocês a coluna de Moacir Pereira, de hoje, escrita pelo interino Upiara Boschi, no jornal Diário Catarinense:

A eleitoralização das políticas de segurança pública tem sido pauta permanente em Santa Catarina nos últimos anos. A ponto de, nas eleições do ano passado, dois candidatos ao governo, Raimundo Colombo (DEM) e Angela Amin (PP), terem feito a promessa explícita de que indicariam um nome técnico para dirigir a Secretaria de Segurança Pública. A outra candidata viável, Ideli Salvatti (PT), esquivou-se da promessa, mas disse que se indicasse um político, ele precisaria ter comprovada experiência na área.

Eleito governador, Colombo cumpriu a promessa, escolhendo o promotor de Justiça César Grubba para tocar a pasta. Também tirou do papel, com a minirreforma administrativa, a ideia de desmembrar segurança pública e sistema prisional. Voltamos ao que se tinha antes do governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB), responsável por fundir, em 2003, as pastas de Segurança Pública e de Justiça e Cidadania.

Deu a Secretaria de Justiça à deputada estadual Ada de Luca (PMDB), indicando que, talvez, a politização é que tenha sido desmembrada. Certo é que a escolha de Grubba foi um alento após um período em que deputados com projetos políticos tocaram a segurança no Estado. Mesmo que ele não tenha conseguido emplacar todos os nomes que quis em alguns postos-chave, como o comando da Polícia Civil.

Acontece que, como diz o ditado, “cachorro picado por cobra tem medo de linguiça”. Ao ver que dos 202 policiais civis que serão distribuídos pelo Estado, apenas um vai dar expediente em Blumenau, terceira maior população de SC, a reação da cidade foi imediata.

O sentimento foi perfeitamente traduzido pela capa do Santa de terça-feira, ao desenhar 201 bonequinhos pretos e um vermelho – o delegado destinado à cidade. O presidente da Associação Empresarial de Blumenau, Ronaldo Baumgarten Jr, assinou um duro texto sobre a sensação de que mudaram os nomes, mas a velha política continua rondando a segurança.

Queixa-se de que em vez de política de segurança existe um “mapa político da segurança”, responsável por distorções na distribuição de efetivo policial nos últimos anos. Alega que a entidade sempre buscou, sem sucesso, conseguir os números de policiais civis e militares por habitante de cada município. Seria a forma de comparar a situação de Blumenau com a das demais cidades de porte.

Números em debate

Curiosamente, uma audiência pública da Assembleia Legislativa discute hoje, em Blumenau, a segurança pública. O secretário Grubba terá a chance de explicar esse e outros pontos que afligem os blumenauenses. A justificativa oficial para destinar apenas um dos 202 novos civis para a cidade foi dada ainda na terça-feira: foram escolhidas as regiões que apresentam maior defasagem de número de policiais.

Se for para repetir o discurso e prometer mais atenção na próxima distribuição, Grubba vai frustrar mais uma vez os já frustrados cidadãos de Blumenau. Da mesma forma que, em audiência pública similar realizada em 2009, os joinvilenses tiveram que ouvir do ex-secretário e hoje deputado federal Ronaldo Benedet (PMDB) que os números da violência em Joinville ainda não justificavam cuidados especiais, ao serem comparados com os de outras regiões.

Se Grubba der resposta similar aos blumenauenses, de pouco adiantará ter sido uma indicação técnica. A secretaria costuma usar números para dizer que, em alguns casos, existe mais “sensação de insegurança” do que registros policiais. Talvez haja um novo dado para a pasta monitorar a partir de agora na hora de anunciar aumento de efetivo ou de estrutura: sensação de politização.

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