segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Crise ameaça centenárias de Brusque

Alta do algodão e concorrência asiática abalam as finanças de três empresas

Ao pensar nos planos que tinha para o fim do ano, Valentim Tamasia fica inquieto. As mãos suam. O objetivo era claro: pedir demissão quando completasse 50 anos de vida, seis de aposentadoria e 33 de empresa. O apego à firma que lhe deu o primeiro emprego, onde formou família e fez amigos, havia feito com que Tamasia adiasse várias vezes o plano. Mas perto de completar meio século de vida, o coordenador de tecelagem estava resolvido a deixar a empresa. Os planos foram interrompidos. A Companhia Industrial Schlösser dispensou os 450 funcionários no início do mês, quando completou 100 anos, e paralisou a produção.

A situação expõe as dificuldades que vivem três das maiores empresas têxteis de Brusque. Buettner e Tecidos Carlos Renaux também têm problemas. Os administradores têm parcelado salários dos funcionários e fechado setores para manter o fluxo de caixa. A falta de inovação na gestão, a concorrência com produtos asiáticos e a alta no preço do algodão são apontados pelos próprios empresários como alguns dos principais responsáveis pela situação. Todas centenárias, as três empresas são parte da história de Santa Catarina.

Por enquanto, Tamasia e os outros funcionários estão em casa, de licença remunerada. Esperam a decisão sobre o futuro da Schlösser. Sexta-feira, uma reunião entre os acionistas deve optar pela autofalência – fechamento total e demissão dos funcionários – ou recuperação judicial – quando a empresa continua em atividade por meio de um comitê de credores. A decisão será adiada se não houver quórum na reunião.

Por enquanto, Tamasia mantém no sótão de casa os materiais de escritório, agenda e crachá que usava no trabalho. A cada toque do telefone, espera que seja o aviso para voltar ao batente, com os objetos debaixo do braço:

– Parece mentira. Acho que a qualquer momento vão pedir para voltarmos. A gente trabalhava num clima de família.

O diretor executivo de Relações com Investidores da Schlösser, João Beckhauser, afirma que a alta do preço do algodão relacionada a outros fatores – entre eles problemas de gestão – culminaram na paralisação da empresa. Os funcionários ainda não receberam o salário de dezembro e o 13º. O pagamento de janeiro não tem previsão para sair. A situação financeira da empresa está sob sigilo.

De acordo com o Sindicato de Mestres e Contra-Mestres de Brusque, alguns funcionários já buscam outro emprego.

A matéria foi publicada no Jornal de Santa Catarina deste final de semana.

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